Grupo BF- Um engano

Estou a enviar este e-mail na sequência de um acontecimento que deve ser conhecido por todos. Visto ser estudante de comunicação social, mais a minha vontade de informar se evidencia.

Acontece que no dia 28 de Julho, enviei uma série de Currículos, um deles para a empresa “Above the Line”. Cujo anuncio pedia requisitos básicos, como linguagem fluente, boa apresentação, ambição, responsabilidade. E a função era descrita como “Consultadoria comercial”. Pareceu-me bem, visto a minha ideia ser um trabalho apenas para o resto das férias, ou se possível, conciliar com a faculdade. Fiquei espantada com a brevidade do telefonema que não tardou a chegar no dia seguinte, em que me propuseram a comparecer no escritório no dia seguinte (29). Às 11h da manhã de sexta-feira lá estava eu. Assim que entrei, deparei-me com um escritório com música com o volume aumentado fora do normal e uma secretária que me deu para as mãos uma folha de pré-inscrição onde preenchi alguns dados meus. Finalmente entrei para um gabinete com o gerente, João, do qual nunca soube o último nome. A entrevista não durou mais de 8 minutos. Onde ele me perguntou onde eu tinha trabalhado sem fazer qualquer comentário ou pergunta, e se apressou a perguntar onde eu me imaginava daqui a 3 anos. “Queres uma vivenda, um Mercedes… O normal, o que toda a gente quer”. Eu já conhecia essa estratégia de marketing para deixar as pessoas encantadas, portanto, não me iludi. Disse que procurava alguém para ter várias funções e para estar no lugar dele, pois queria abrir mais escritórios. Quando eu perguntei o que é que a empresa fazia em concreto só me disse que eram contratos de eletricidade e que tinham reuniões com clientes.

Sempre sorridente disse que durante a tarde iria receber um telefonema, quer ficasse, quer não. 15h da tarde e lá recebo eu o telefonema, que não ouvi no momento, mas que retribui. Atendeu a secretária Vanessa que me gritou “Parabéns, foi selecionada para a segunda fase”. Havia ali alguém mais feliz que eu, mas tudo bem. Marcou então o dia para eu ir à segunda fase da entrevista que consistia em passar o dia com eles. Segunda-feira (01) às 9h cheguei à empresa. Fui apresentada a um rapaz com uma aparência um bocado estranha, que supostamente era já instrutor, ou algo do género, e que ia passar o dia com ele. Disseram-me que ia para Algés para empresas falar com clientes. – Vou a uma ou outra empresa apresentar uma proposta de eletricidade, pensei eu.
Entrei no carro com um rapaz que aparentava ser de etnia indiana, um negro/brasileiro, um homem branco e o tal rapaz que eu iria acompanhar, com uma aparência estranha, para um empresário. É claro que a maior parte de nós defende a igualdade racial, mas quando entramos numa empresa em que vemos algumas etnias diferentes representadas, dá que pensar. Ou é uma empresa que gosta realmente de dar oportunidade a todas as pessoas, ou existe algo de estranho.

Já em Algés, o carro foi estacionado e todos se separaram, ficando eu com o tal instrutor. Fiquei sem perceber até que ele me passou uma pasta para a mão e começamos a tocar às campainhas das casas. O esquema baseava-se em dizer “Bom dia, é da luz! Bem-disposta? O responsável está? Gostava de saber se é um alto consumidor, posso ver a fatura?” Quando as pessoas pagavam mais de 50€ de eletricidade, tinham direito a 10% de desconto na fatura. E era isto. Sem nenhum “mas”. “Só preciso do seu Cartão de Cidadão”. A maior parte eram empregadas, e os responsáveis das propriedades não estavam presentes. Os que estavam, não se mostravam interessados por ser algo tão simples que fazia duvidar. Ele identificava-se como fazendo parte da empresa BF, em parceria com a“fenosa” que trabalhava com a EDP. Quanto ao ser algo verídico ou não, eu ainda não consegui perceber. Mas o problema instala-se a partir do momento em que eu fui a uma entrevista de emprego e me ocultaram a principal função. Eu não pretendo ter um trabalho em que se equipare à função dos Jeovás, em nenhum momento. No entanto, durante a manhã em que acompanhei o rapaz, aproveitei para fazer algumas perguntas. Os contratos de trabalho, aparentemente, eram mensais, renovando automaticamente. Se vendêssemos contratos de luz, ganhávamos. Se não, provavelmente não existiria um vencimento base. O rapaz mostrava-se feliz com o seu cargo de instrutor. Quando lhe perguntei o que ele ganhava a mais, ele apenas respondeu “responsabilidades” Passou o dia inteiro a dizer que passou a instrutor passado pouco tempo de entrar na empresa. E que o colega negro que vinha connosco no carro foi “contratado” enquanto vendia a dica, na rua. – O quê? Que abordagem fizeram a alguém que está a trabalhar na rua?, perguntei eu. “Olha, queres trabalhar? Então anda”, respondeu ele. Eu não sei até que ponto isto se torna credível, mas eu comecei a assustar-me. Não sei se o pior de tudo isto foi eu ter de me vir embora pelo meu próprio pé, gastando dinheiro do meu próprio bolso, desde Algés até Almada (onde tinha o meu automóvel), ou o rapaz que se dominava de instrutor, acreditar que iria passar a gerente em breve. Uma coisa eu aprendi ao longo da vida. Milagres não existem, e o sucesso só se alcança a trabalhar. Mas é exatamente aqui que o segredo está. Não é fácil arranjar um emprego que nos dê o ordenado de sonho que o rapaz dizia que o João, o gerente que me entrevistou, tinha, apenas sentado numa secretária a fazer entrevistas e a ganhar 50% das comissões de todos os “Jeovás” que andavam de porta em porta. Os bons empregos, temos de os procurar e lutar por eles. Eles não vêm até nós enquanto estamos no transito a vender a dica.

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